O Poço da Tragédia !

Este fato aconteceu em janeiro de 1980 em Poá SP. Liguei a televisão e uma música tocava, era as Frenéticas com a música : Abra sua asas, solte suas feras, caia na gandaia e entre  nesta festa, da famosa novela dancin days.

Eu Tinha 14 anos na época, nenhum tipo de experiência a mais e nenhuma responsabilidade. Tomei meu café, e vi minha mãe chamando o meu tio que morava ao lado. Percebi rapidamente uma movimentação pelo corredor, minha mãe com um balde, meu tio com uma corda, eu não sabia do que se tratava.. Sabia apenas que eles  iam fazer algum tipo de trabalho.

Estávamos morando naquela casa provisoriamente que pertencia ao meu tio, pois meu pai tinha comprado um terreno nas proximidades. Eu estava de férias na escola e comecei a fazer o que eu mais gostava que era empinar pipa. 

Cerca de 30 minutos depois fui para os fundos da casa com a lata de linha e a pipa. Então percebi meu tio na boca do poço  girando a manivela (o sarilho) como se estivesse retirando água. Ele me chamou e disse: 

-Dê uma ajuda, quando a corda chegar próxima do final do sarilho, puxe para não enrolar. Naquele momento tive a curiosidade em olhar para baixo e ver o que ele estava puxando. Para minha surpresa, ele estava puxando nada mais nada menos que minha mãe. 

O poço tinha 23 metros de altura, a água estava suja, e no pensamento de economizar dinheiro, ambos tiveram a péssima  ideia de efetuarem a tarefa.

Quando eu olhei para baixo e vi que era a minha mãe, ela estava na boca do poço, já tinha feito a limpeza, já tinha terminado, faltava apenas uma girada na manivela para estar no solo novamente. Ela olhou para cima e disse:
-É você meu filho que está aí? Nesse momento ouvi um estralo, como se algo tivesse quebrado, e de repente a corda começa a deslizar para baixo e vi minha mãe despencando abaixo, batendo nos tubos que haviam sido colocados dentro do poço.
Ainda tentei segurar com a minha mão, mas ela ficou com os nervos expostos. O desespero tomou conta de todos, e foi necessário um desconhecido aparecer com uma corda, escalou o poço abaixo e resgatou minha mãe. Ela foi retirada desacordada e levada para o hospital São Marcos que ficava em Ferraz de Vasconcelos SP.
Já no hospital foi constatado que o crânio não tinha quebrado e a bacia estava sem fraturas, porém, o Fêmur estava afetado. Mas com todas as incertezas daquele momento,  ainda tínhamos a esperança que houvesse a recuperação.
Quando eu ia visita-la, olhava suas pernas que estavam engessadas e eu percebia que uma perna estava maior do que a outra. Meu pai sempre viajava e pelo fato de eu ser o mais velho dos 3 irmãos, meus tios do Paraná me deram a opção de escolher com quem  eu queria ficar, ou em São Paulo ou no Paraná. Eu escolhi ficar em São Paulo, pois não queria ser o último a receber a notícia da morte caso viesse a acontecer.

Minha mãe já não falava palavras que se entendessem. Depois de quatro meses internada passou a delirar e depois parou de falar. Os médicos diagnosticaram infecção hospitalar e ela foi transferida para o Hospital Emílio Ribas que ficava ao lado do Hospital das Clínicas. Ainda fui visita-la junto com minha tia, mas ela não me reconheceu. Imagens vivas na memória. Foi constatado que ela tinha contraído meningite. Não se passou uma semana e ela veio a falecer no dia 11 de maio de 1980. Começava aí a nossa história. Vim para Belém porque foi minha escolha, e meus irmãos foram para o Paraná (não tiveram escolha). Mas com escolha ou sem escolha só existia uma realidade. Nossa família tinha acabado.

http://memorialcomoutrosautores.blogspot.com.br/2012/12/erlon-andrade.html
Ilana Drielle
Destaque - Erlon Andrade 

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